quarta-feira, 29 de abril de 2015

Passagem por Pisa

O itinerário do nosso vôo era Lisboa X Pisa, e vice versa. Na ida estávamos muito cansados e preocupados em pegar o trem Pisa X Veneza. Mas na volta já estávamos mais experientes sobre as estações e trens. Chegamos de Florença bem cedinho em Pisa e fomos conhecer a cidade. Pisa foi sem dúvida nosso maravilhoso bônus nesta viagem. Não esperávamos, mas ficamos surpresos com o charme, o clima e a beleza da cidade. É muito bonita arquitetonicamente, neste sentido lembra muito Florença. Além disso come-se bem e a preços justos (tem menos turistas que Veneza e Florença).
A torre é belíssima, desses monumentos imponentes, grandiosos, inteiro em mármore. Fico a pensar na riqueza e no esforço da sociedade que produziu algo tão poderoso para servir como uma torre de sino. Eu não pesquisei, mas meu marido disse que ela começou a entortar devido ao peso. A torre era muito pesada para o terreno, que foi afundando com o tempo. Ainda é possível entrar nela e subir ao alto já que a torre é toda escorada por cabos de aço (não são visíveis). O conjunto igreja, capela, torre é também belíssimo. Hoje se me perguntassem "vale a pena passar por Pisa?", nunca imaginei, mas diria que sim, vale passar ao menos um dia nessa cidade deliciosa. Talvez até mais. Pretendo voltar.



Pelos becos de Veneza

Veneza é uma das cidades onde mais me perdi na vida rsrs. Os becos parecem todos iguais e por mais que se passe por eles infinitas vezes, ainda é difícil se situar. Um casal de brasileiros passa por nós meio irritados:

Ele: eu não moraria nesta cidade nem a pau Juvenal
Ela: eu também não, lugar depressivo


La Traviata (Musica a Palazzo, Veneza)

Sublime! Dessas experiências que marcam uma vida!

Quando fomos a Veneza o lindíssimo Teatro La Fenice estava recebendo a montagem de La Traviata. Os ingressos estavam esgotados. Só conseguimos as entradas para uma montagem desta ópera no Palazzo Barbarigo Minotto, onde acontece o Musica a Palazzo, projeto que propõe um jeito diferente de assistir a uma ópera. Fomos desconfiados, claro, mas fomos surpreendidos muito positivamente, tendo todas as expectativas superadas.
Estávamos em um palácio do século XV ouvindo ópera como numa corte. O palácio era o cenário perfeito e nós fazíamos parte dele. Nós e mais 30 pessoas que ocupavam os espaços onde a ópera se desenvolvia, nos salões e alcovas do palácio. A soprano era maravilhosa, hipnotizante, e ao servir para ela uma taça de prosecco (que não era cenográfica), serviu uma segunda taça, veio andando em minha direção, cantando, e colocou a taça na minha mão. Linda, sedutora, Violetta. Sua voz preenchia todos os espaços da sala aonde estávamos. Uma voz que se materializava e vinha na minha direção como uma onda. Era possível sentir como vibrava violentamente em algumas notas e batia com as mesma violência no meu rosto. Me emocionei tantas vezes que acho que a cantora percebeu. Na cena final, em que já definhava pela tuberculose, Violetta soltou a última nota e se jogou no meu colo. Tão envolvida que estava quis ajudá-la rsrs, mas me contive para não desconcentra-la. Neste momento estávamos na alcova, diante de sua cama. 
A ópera acontece em 3 atos, em três diferentes salas do palácio. O clima é incrível e a experiência muito marcante. No intervalo tomamos um prosecco em uma sala de onde se via o canal e Veneza fez todo sentido para nós. Era o lugar mais certo para se estar no mundo. Que bela cidade. Foi certamente La Traviata que nos trouxe a experiência de Veneza, que nos revelou a cidade. Voltamos para o hotel cantarolando pelos becos e pontes. Sublime!


Sobre Veneza

A cidade é, sem dúvida alguma, belíssima, das mais bonitas em que já estive na vida. Mas a experiência é pobre. Eu diria decepcionante. Fiquei assustada com a quantidade de gente e o tipo de turismo a que a cidade sucumbiu. Camelôs (sim, barraquinhas de bugingangas)vendendo máscaras made in China em plena praça São Marco. As ruas (becos e vielas) tomadas por lojas da Gucci, Dolce & Gabanna, abarrotadas pelas excursões de consumidores  que empobrecem a experiência e nada fazem lembrar a cidade medieval dos mercadores, mas a disneylandia. Preços altíssimos. Pode-se pagar 8 euros numa garrafinha de 200 ml de água. Com o euro a $3,4, faça as contas. Não me importo em pagar caro para estar numa cidade como Veneza, mas desde que se ofereça um serviço à altura do que se cobra. Não é o caso. Para ter uma boa experiência de Veneza é preciso se desligar disso.

Chegamos a Veneza à noite, a primeira visão da cidade é de tirar o fôlego. Chegamos na estação de trem  S. Lucia, olhamos o canal, as luzes..sensacional. Pegamos o vaporeto. O percurso até a praça São Marco é belíssimo. E essa é uma das informações mais preciosas que se pode dar sobre Veneza. A cidade foi feita para ser percorrida de barco, gôndola, etc. É para ser vista a partir dos canais. As belíssimas fachadas dos prédios e o conjunto arquitetônico  só se revelam, se entregam se vistos de dentro dos canais. Os fundos destes prédios se vê das vielas e becos, sempre cheios de gente e ocupados por lojas de marca e restaurantes.


Ao deixar Veneza, minha sensação foi de "que pena".

Veneza e Florença

A Itália continua figurando entre meus lugares preferidos neste mundo. Fomos a Veneza e Florença nesta semana e tivemos dias deliciosos por lá.
Reservamos de última hora pela Ryanair vôos de ida e volta Lisboa X Pisa. Comprei passagens de trem PisaXFlorençaXVeneza pela Trenitalia. Reservei os hoteís e fiz uma pesquisa rápida na internet sobre os destinos. A viagem não foi muito planejada, mas deu tudo certo. Conheci um pouco mais da Itália (só conhecia Roma) e confirmei a minha positivíssima impressão sobre este país:

1) Os homens italianos são muito bonitos, tipo moreno e másculo. Diria que são galantes, mas às vezes parece que têm uma obrigação moral de olhar, medir e "elogiar" as mulheres, então acho que passa um pouquinho disso. 

2) Os italianos são expansivos, o que faz com que o mundo latino continue sendo meu preferido. Vê-se gente alegre, divertida, gentil. Sinto-me em casa gesticulando e falando com as mãos.

3) É um povo que sabe comer e comida é coisa séria (outra razão para eu amar essa gente). Eu continuo desapontando os garçons com a minha mania de deixar comida no prato, o que parece uma afronta. Alguns se recusam a tirar meu prato e me ensinam a pegar o pão e raspar aquele restinho de molho que ficou. Crianças sentam à mesa e comem como adultos o antipasti, primi piatti, secondo piatti, enfim, toda a sequencia maravilhosa que faz um almoço durar horas.

4) os vinhos italianos...ahh os barolos, amarones e chiantis...melhor nem falar.

5) A Itália continua tendo, na minha opinião, o maior e mais emocionante patrimônio material da Europa. 

Vou fazer diferentes postagens sobre cada tema e cada uma das cidades (Veneza e Florença) senão isso aqui vai ficar longo demais

domingo, 12 de abril de 2015

A exposição Gêneses, de Sebastião Salgado

Hoje fomos à exposição “Gênesis”, do Sebastião Salgado. Esperamos cerca de 40 minutos na fila, mas a experiência valeu, me emocionei em diversos momentos. Não entendo desta arte, posso falar apenas daquilo que me sensibilizou. Em primeiro lugar o nome escolhido diz muito. Ao entrar na galeria e começar a observar as fotografias e a forma como estão organizadas, a sensação é de estar fazendo parte do movimento de criação do mundo, um mundo onde nós não estamos. Central é a natureza e a beleza da nossa ausência. Entre paisagens e animais magníficos, as pessoas que existem parecem parte ou talvez uma força dessa natureza. Uma criança indígena segura um peixe e as pinturas de seu corpo imitam os desenhos geométricos e escamas desse animal. Um idoso de uma tribo do Sudão sentado, nú, e as rugas e dobras da sua pele sobre a barriga são idênticas à textura da árvore de tronco retorcido na fotografia anterior. Em alguns momentos senti um frio na espinha, pois Gêneses me lembrou que talvez sejamos mais natureza do que desejamos, me mostrou gentes e paisagens absolutamente desconhecidas e ao mesmo tempo de uma grandeza tão impressionante que, a forma como organizamos nossa vidinha, como confiamos nisso tudo e no que há de razão por trás disso, de repente deixou de fazer sentido. Mas, claro, ao mesmo tempo é pretensioso querer ser do tamanho dessa natureza. Deixei a galeria desejando apenas me sentir à vontade neste mundo.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Em Lisboa um lar

A primavera por aqui anda sem força, mas hoje, depois de alguns dias escuros e chuvosos, essa é a vista do meu terraço: o sol batendo nos telhados e prometendo dias mais iluminados. Do meu terraço vê-se a cidade baixa e o Tejo. 

Mercado da Ribeira - Cais do Sodré

O mercado merece  uma postagem mais longa, com fotos do movimento, das gentes (no plural, com certeza), da comida, dos vinhos e principalmente minhas, já que com certeza eu sou a imagem da alegria quando é dia de comer por lá.

Hoje comemos ostras papeando com uma dupla sueca (mãe e filho), com um delicioso vinho branco do Alentejo. Mas esqueci a câmera em casa :/ e a conversa não permitiu anotações sobre as Bochechas de Porco Preto e o leitão confitado que comemos. Vou completar a postagem amanhã, quando volto com calma, com câmara e diário de bordo.




quarta-feira, 8 de abril de 2015

Mais um pouquinho de Lisboa: Estátua do Eça de Queirós, Passeio no Tejo, Café à brasileira e o Fernando Pessoa

"Sobre a nudez forte da verdade, o manto diáfano da fantasia". A verdade representada no belo corpo de mulher. Eis a estátua do Eça de Queiroz. Uma réplica da original que se encontra num museu.

Abril: Passeando pelo Tejo, dos prazeres que a primavera proporciona (a menos que chova. Esse "fresquinho" foi transformado em frio, desses de usar aquecedor durante uns dias de chuva)

O café à Brasileira é uma casa legal de se visitar em Lisboa. Popular mas com qualidade, cheio de história mas ainda muito atual. Fiquei nas mesinhas do lado de fora, perto do Pessoa (dos frequentadores mais ilustres). Fomos num dia bem gostoso de primavera, desses que fazem os europeus saírem de casa animados, então o lugar estava lotado de turistas (além disso era feriado de páscoa). Acho que em decorrência disso os salgados estavam frios, mas eram muito saborosos e bem feitos. O capuccino também estava bom. O atendimento foi meio lento pela quantidade de gente, mas você nem percebe pois o lugar estava animado e vibrante. Lugar simpático que faz a gente entender porque sobreviveu aos anos.

Sobre a Garrafeira Nacional e o Barca Velha

Nem preciso dizer que vinho e comida têm sido um "plus" na minha experiência além-mar. Gaspacho vendido no mercado em embalagem tetrapack de 1 litro a 1 euro; vinhos excelentes que no Brasil custariam 60 reais também vendidos no mercado a 8 ou  9 euros; cogumelos e toda a sorte de peixes e frutos do mar frescos; queijos, presuntos de porco preto, enfim.
Nossa grande descoberta lisboeta foi a Garrafeira Nacional e a possibilidade de degustar vinhos muito bons pagando apenas a taça. Isso significa provar dos melhores vinhos, aos quais dificilmente teríamos acesso não só pelo preço, mas por não encontrá-los facilmente no Brasil, pagando apenas uma fração do que pagaríamos pela garrafa. Ahh! Essas máquinas maravilhosas (fotos abaixo)! Temos degustado vinhos incríeis, suas melhores safras! As lojas "Garrafeira Nacional" encontram-se espalhadas por Lisboa. Fomos a uma no Mercado da Ribeira, no Cais do Sodré; tem outra na rua dos Funqueiros, e uma terceira mais perto do Rossio. Cada uma delas oferece uma variedade diferente de vinhos a degustar. Destaco nossa experiência com um Collares, vinho branco tradicionalíssimo e para muitos, difícil de tomar/gostar. Nós adoramos, tem o gosto da tradição portuguesa, lembrando um pouco o Jerez (xerez). O ano do nosso foi 1969. A outra experiência, e até agora a maior de todas, foi o Barca Velha da casa Ferreirinha, vinho icônico português. O ano? 1982! Uma garrafa custa algo em torno de 350 euros, ou seja, mais de 1000 reais. Pois bem, fomos destemidos e pagamos 30 euros numa taça. Valeu o investimento. Equilibrado, ainda se sente os taninos e a acidez (mesmo depois de 30 anos em garrafa), mantém complexidade, enfim, experiência sensacional. Aprendemos que não é sempre que se produz o Barca Velha, isso só é possível nos melhores anos/safras. É um vinho que envolve muito investimento em sua produção, passa anos sendo elaborado pelos enólogos da casa que o levam às barricas, provam, retornam, enfim. Claro que o custo foi alto para nós, não em termos de dinheiro, pois isso deixa de ser uma questão quando um vinho desse passa pelo céu da sua boca, língua, bochechas. O custo é voltar a tomar vinhos "normais" depois de se saber o que este mundo oferece!

O Collares 1969 é um vinho branco mas repare nessa cor

O Collares na máquina de degustação

Este Madeira é um vinho fortificado como um vinho do Porto, maravilhoso

Meu amor degustando um Barca Velha
o vinho incônico: Barca Velha 1982

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Doutorado Sanduiche em Lisboa

Fui contemplada com uma bolsa capes de doutorado no exterior. E então Lisboa, voltei. Tomei posse do meu ap, desfiz as malas. Reconheci a vizinhaça, abasteci a despensa, enfim, cheguei e acho que já tenho inspiração suficiente para a tese.