domingo, 26 de fevereiro de 2012

Ao Passo



É mesmo um privilégio viver em Mariana. Acordei, abri as janelas e vi uma manhã linda. Coloquei um cd do Scarlatti e fiquei imaginando uma manhã de domingo animada numa cidade barroca : tinha uma mocinha casadoira tocando uma sonata de scarlatti no cravo para reunir a família. Nos arrumamos e fomos a Ouro Preto onde estendemos a manhã animada numa tarde deliciosa no Passo.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

SBT no carnaval do Rio de Janeiro

A equipe designada pelo SBT para cobrir o desfile das campeãs nos proporcionou muitas gargalhadas. A falta de sincronia entre o que a câmera mostrava e o que os comentaristas falavam, a falta de informação e repertório, os improvisos desastrosos foram só uma pequena amostra do que estava por vir. Uma figura hilária que comentava as fantasias, depois de confundir o ator Milton Gonçalves com o cantor Milton Nascimento, resolve falar sobre o dourado das alegorias, que dentro do enredo da Portela referia-se ao Barroco da Bahia. O pequeno gênio comenta:
-Pois é gente, o carnaval é muito antenado com a moda. O dourado é uma das tendências neste verão e estendeu-se à avenida, veja quanto dourado!!!
Eu
:O
E o namorido
- É imbecil, então o dourado está na moda desde o século XVIII

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Escrevendo Tese

Perguntas sobre minha tese me deixam confusa. Não basta ter um projeto de tese, é preciso estar preparada para as perguntas a respeito dele (que surgem nas mesas de bar, cafeterias e até em casa).
Quando passei no doutorado meu namorado comentou: "é, amor, agora só o que te separa do título de doutora é uma tese". E eu pensei: moleza! Agora cá estou eu tentando, não apenas entender e desenvolver meu projeto de tese, mas explicá-lo às pessoas. Então vamos lá: minha proposta é trabalhar o comportamento de deputados eleitos às Cortes de Lisboa, entre 1808 e 1823. A idéia é pensar as brechas abertas pelo processo de reformulação e reconfiguração das antigas instâncias de poder, iniciada com a chegada da corte ao Brasil, e com isso a abertura de um espaço maior de ação individual. Quero pensar, a partir de suas trajetórias e ação, como eles aprenderam a operar com as novas ferramentas (como vocabulário e cultura política) emergentes com as reivindicações constitucionalistas e reconstituir essa dinâmica de expansão e reinvenção dos espaços de ação individual nessa conjuntura.
Ufa, falei!

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Digerindo

Lendo as páginas finais da "História do Cerco de Lisboa"(do Saramago). Das melhores coisas que li ultimamente. O revisor que desrespeita o texto alheio, troca um sim por um não e muda toda a história da retomada de Lisboa pelos portugueses. Mas o genial mesmo é perceber um cerco que não acabou, que se faz presente nas ruas, castelos, nas pessoas, oito séculos depois. O cerco da então cidade moura seria o cerco do revisor... da história...da Lisboa de hoje que se refaz...
Selecionei um trecho que para mim foi o melhor momento da leitura
"Raimundo Silva não tem pressa. Consulta gravemente o itinerário, por sua satisfação vai tomando minuciosas notas mentais, por assim dizer complementares, que atestam a sua própria contemporaneidade, lá na Calçada do Correio Velho uma soturna agência funerária, uma espuma branca no céu azul, de avião a jato, como no zul do mar a longa esteira de um barco rápido, a Pensão Casa Oliveira Bons Quartos da Rua da Padaria, o Restaurante Come Petisca Paga Vai Dar Meia Volta, mesmo ao lado das Portas do Mar, a Cervejaria Arco da Conceição, no dito, a alta pedra de armas dos Mascarenhas no cunhal de um prédio do Arco de Jesus, onde teria sido uma porta da cerca moura, a inscrição na parede, protestativa, o portal neoclássico do palácio dos condes de Coculim, que Mascarenhas eram, armazéns de ferro, nisso deram as grandezas, um mundo de coisas fugazes, transitórias, que o certo é todas serem, sem exceção, pois já o rasto do avião se dissipou e do resto dará o tempo conta a seu tempo, é só ter a paciência de esperar. O revisor entrou em Alfama pelo Arco do Chafariz d'El-Rei, almoçará por aí, numa casa de pasto da Rua de S. João da Praça, para os lados da torre de S. Pedro, uma refeição popular portuguesa de carapaus fritos e arroz de tomate, com salada, e muita sorte, que lhe calharam no prato as tenríssimas folhas do coração da alface, onde, verdade que não a sabe toda a gente, se acolhe a frescura incomparável das manhãs, a orvalhada, o rocio, que tudo é o mesmo, mas se deixa repetido pelo simples gosto de escrever as palavras e dizê-las de modo saboroso. À porta do restaurante estava uma rapariguinha cigana, de uns doze anos, estendia a mão, à espera, sem pronunciar palavra, apenas olhando fito o revisor, que, indo atrás dos pensamentos que o ocupam, não viu cigana, mas moura, na hora da primeira necessidade, quando ainda havia a quem pedir e os cães, os gatos e os ratos julgavam ter vida assegurada até à sua natural morte, por doença ou guerra das espécies, afinal, o progresso é uma realidade, hoje ninguém, em Lisboa, anda à caça de animalejos destes para comer, Mas o cerco não acabou, avisam os olhos da cigana." (pagina 73)