terça-feira, 31 de janeiro de 2012

De volta ao Cerco de Lisboa

A leitura do Saramago vai bem obrigada, bem devagar. Tenho dedicado tempo a leituras acadêmicas e o Cerco de Lisboa tem sido deixado de lado. Não é difícil como pensei a princípio. É preciso, na verdade, se acostumar com o estilo do autor. Ele tenta aproximar sua escrita da oralidade, substituindo por exemplo pontos por vírgulas, ou abrindo mão dos dois pontos e do travessão ao apresentar as falas das personagens no discurso direto. O resultado é que é preciso algumas 30 páginas para se acostumar com frases enormes, naturalizar a pontuação e deixar a leitura fluir. Engrenei:
"Afinal, é apenas um romance entre os romances, não tem que preocupar-se mais com introduzir nele o que nele já se encontra, porque livros destes, as ficções que contam, fazem-se, todos e todas, com uma continuada dúvida, com um afirmar reticente, sobretudo a inquietação de saber que nada é verdade e ser preciso fingir que o é, ao menos por um tempo, até não se poder resistir à evidência inapagável da mudança, então vai-se ao tempo que passou, que só ele é verdadeiramente tempo, e tenta-se reconstituir o momento que não soubemos reconhecer, que passava enquanto reconstituíamos outro, e assim por diante, momento após momento, todo o romance é isso, desespero, intento frustrado de que o passado não seja coisa definitivamente perdida. Só não se acabou ainda de averiguar se é o romance que impede o homem de esquecer-se, ou se é a impossibilidade do esquecimento que o leva a escrever romances."

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Pedro Almodóvar X Lars von Trier


Não sou uma grande entendendora de Cinema, mas posso me dizer uma entusista da sétima arte. Depois de assistir A Pele que Habito, do Almodóvar, tive que abrir uma garrafa de vinho e conversar com ele (o namorido) sobre nossas impressões. Almodóvar teve o mérito de nos causar algumas inquietações, que mesmo hoje, dias depois, não conseguimos sossegar. Mesmo nós dois, que nos consideramos (talvez ingenuamente) criaturas bem resolvidas com nossos corpos e sexualidade.
À primeira vista, achamos o filme um grande clichê. Uma tentativa, embora bem sucedida, pouco complexa de colocar os "bem resolvidos com seu corpo e sexualidade" no lugar daqueles que vivem em um corpo que não corresponde ao que si é. Porém, o filme precisa ser digerido e passados um, dois e mais dias, vem vindo à tona algumas complexidades do filme que uma análise superficial deixa escapar.
Entre uma taça e outra, chegamos à questão do estupro e é intrigante como mesmo as cenas de estupro dirigidas pelo Almodóvar são leves, às vezes até desastradas gerando aquele risinho de canto de boca. Inevitável a comparação com as cenas chocantes e densas/tensas sob direção de Lars von Trier. Inclusive, depois de assitir o Anticristo, até mesmo as cenas de sexo consentido, me parecem condenáveis. E pimba, chegamos ao ponto, assunto deste post.
O Lars, um dinamarquês muito alemão, parece ter condenado a humanidade. Em Melancolia, por exemplo, quando o mundo/vida acaba, a única pessoa capaz de enfrentar o fim com dignidade é a personagem que passa todo o filme desiludida, melancólica, negando ritos, afetos, laços e toda nossa parafernália social, mostrando-se indiferente a todas essas coisas com as quais se leva a vida. O prazer nos condena, o poder nos condena, a existência é vã. Por isso a sensação pós Lars é sempre de desencanto (desencanto do mundo, nada mais protestante, mais alemão).
Mas o Almodóvar nos redime, seus filmes são sempre uma celebração da vida, como se ela se justificasse em si mesma. Nada mais católico, nada mais espanhol! Em A Pele que Habito, a personagem transformada não aceita sua nova condição. Isso fica claro quando ela mata seu médico, e assim Almodovar consegue nos deixar inquietos, nos sentindo vulneráveis em nossa própria condição. Porém, ao final há um olhar que transtorna toda a história. E esse olhar para mim é a celebração da nossa loucura, da nossa condição. Esse olhar é o da funcionária da loja de roupas para Gal (personagem transformada). O rapaz que sofre a mudança de sexo/pele era apaixonado pela funcionária da loja de sua mãe, que não se interessava por ele porque era lésbica. Ao vê-lo transformado, ao derecionar a ele aquele olhar de desejo Almodóvar nos dá uma segunda chance!
(Gente, preciso parar por aqui porque a *Rose (a famosa dos posts aqui) está fazendo o almoço e não para de falar, está dificil terminar o texto, mas eu volto)

O Barbeiro de Sevilha


Adivinha quem vai assistir a ópera de Rossini "Il Barbieri de Siviglia" no Teatro Dell'Opera em Roma? Pois é, a blogueira que vos fala. Dia 26 de Abril, contagem regressiva para minha vidinha macarrônica!

sábado, 7 de janeiro de 2012

Enquanto isso, no Rio de Janeiro


Adoro férias

Leitura do momento

Comecei a ler "História do Cerco de Lisboa" do prêmio Nobel José Saramago. Leitura difícil, ainda não engrenei. Para falar a verdade eu acho que sou uma doutoranda em história que não gosta de ler. Gosto de saber as histórias, gosto de um parágrafo bem construído, de uma metáfora genial. Tenho disciplina, mas não gosto do ato de ler. Minha estante está cheia de livros que comecei e nunca terminei. "Cem anos de solidão", por exemplo, foi leitura infinitas vezes interrompida. Gosto dos textos do Machado e do Italo Calvino, não consigo parar de ler. A Emily Bronte e seu " Morro dos ventos Uivantes" me fez ficar na rede um dia inteiro, em plenas férias no Rio de Janeiro, tão atordoada com Heathcliff e Catherine. Chorei mesmo foi na minha adolescência, quando li Lucíola do José de Alencar. Me torno uma pessoa melhor todas as vezes que leio Clarice, porque passo a entender melhor o mundo. Acho que autores com esses criaram personagens cujas histórias e experiências me aproximam da vida e me fazem sentir redimida com o mundo. Tai aí, eu leio mesmo é para que o mundo faça sentido para mim.