sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Pedro Almodóvar X Lars von Trier


Não sou uma grande entendendora de Cinema, mas posso me dizer uma entusista da sétima arte. Depois de assistir A Pele que Habito, do Almodóvar, tive que abrir uma garrafa de vinho e conversar com ele (o namorido) sobre nossas impressões. Almodóvar teve o mérito de nos causar algumas inquietações, que mesmo hoje, dias depois, não conseguimos sossegar. Mesmo nós dois, que nos consideramos (talvez ingenuamente) criaturas bem resolvidas com nossos corpos e sexualidade.
À primeira vista, achamos o filme um grande clichê. Uma tentativa, embora bem sucedida, pouco complexa de colocar os "bem resolvidos com seu corpo e sexualidade" no lugar daqueles que vivem em um corpo que não corresponde ao que si é. Porém, o filme precisa ser digerido e passados um, dois e mais dias, vem vindo à tona algumas complexidades do filme que uma análise superficial deixa escapar.
Entre uma taça e outra, chegamos à questão do estupro e é intrigante como mesmo as cenas de estupro dirigidas pelo Almodóvar são leves, às vezes até desastradas gerando aquele risinho de canto de boca. Inevitável a comparação com as cenas chocantes e densas/tensas sob direção de Lars von Trier. Inclusive, depois de assitir o Anticristo, até mesmo as cenas de sexo consentido, me parecem condenáveis. E pimba, chegamos ao ponto, assunto deste post.
O Lars, um dinamarquês muito alemão, parece ter condenado a humanidade. Em Melancolia, por exemplo, quando o mundo/vida acaba, a única pessoa capaz de enfrentar o fim com dignidade é a personagem que passa todo o filme desiludida, melancólica, negando ritos, afetos, laços e toda nossa parafernália social, mostrando-se indiferente a todas essas coisas com as quais se leva a vida. O prazer nos condena, o poder nos condena, a existência é vã. Por isso a sensação pós Lars é sempre de desencanto (desencanto do mundo, nada mais protestante, mais alemão).
Mas o Almodóvar nos redime, seus filmes são sempre uma celebração da vida, como se ela se justificasse em si mesma. Nada mais católico, nada mais espanhol! Em A Pele que Habito, a personagem transformada não aceita sua nova condição. Isso fica claro quando ela mata seu médico, e assim Almodovar consegue nos deixar inquietos, nos sentindo vulneráveis em nossa própria condição. Porém, ao final há um olhar que transtorna toda a história. E esse olhar para mim é a celebração da nossa loucura, da nossa condição. Esse olhar é o da funcionária da loja de roupas para Gal (personagem transformada). O rapaz que sofre a mudança de sexo/pele era apaixonado pela funcionária da loja de sua mãe, que não se interessava por ele porque era lésbica. Ao vê-lo transformado, ao derecionar a ele aquele olhar de desejo Almodóvar nos dá uma segunda chance!
(Gente, preciso parar por aqui porque a *Rose (a famosa dos posts aqui) está fazendo o almoço e não para de falar, está dificil terminar o texto, mas eu volto)

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