domingo, 10 de maio de 2015

O norte de Portugal

Na semana que vem viajo para um congresso em Braga e vou conhecer o norte de Portugal, que dizem é mais português  que Portugal. O que li a respeito:


Mais verdades.

No Norte a comida é melhor.
O vinho é melhor.
O serviço é melhor.
Os preços são mais baixos.
Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia.

Estas são as verdades do Norte de Portugal.

Mas há uma verdade maior.

É que só o norte existe, o sul não existe.
As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et caetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta.
Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte.
No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista?

No norte as pessoas falam mais no norte do que todos os portugueses 
Juntos falam de Portugal inteiro
Para um nortenho, há o norte e há o resto. É a soma de um e  de outro que
constitui Portugal
Mas o Norte é onde Portugal começa.

Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo.

Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte.

Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa.
Mais ou menos peninsular, ou insular.

É esta a verdade.

Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é Especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte.

Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.

No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa.

O Norte cheira a dinheiro e a alecrim.
O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho.
Tem esse defeito e essa verdade.

Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.

(os versos seguem)

Norte - Miguel Esteves Cardoso

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Florença

Ainda não consegui escrever sobre Florença, cidade linda, desses lugares onde você passa e pensa: adoraria morar aqui. Já escrevo, prometo.

domingo, 3 de maio de 2015

Sobre ostras e Portugal


Há cinco anos atrás, quando começamos a namorar, viajamos para o Chile e fomos ao mercado central de Santiago. Acho que ele queria me testar, desconfiava que eu não comia direito, defeito imperdoável num ser humano. Depois de eu devorar todos os bichos estranhos, sem nem saber de que reino eram(animal, vegetal, plástico), ele me olhou apaixonado: "como você é destemida Gastronomicamente"! Kkkk. Cinco anos depois cá está ele resmungando, aprendendo a abrir ostras em casa, num domingo preguiçoso. Não mandei casar com a Magali.


quarta-feira, 29 de abril de 2015

Passagem por Pisa

O itinerário do nosso vôo era Lisboa X Pisa, e vice versa. Na ida estávamos muito cansados e preocupados em pegar o trem Pisa X Veneza. Mas na volta já estávamos mais experientes sobre as estações e trens. Chegamos de Florença bem cedinho em Pisa e fomos conhecer a cidade. Pisa foi sem dúvida nosso maravilhoso bônus nesta viagem. Não esperávamos, mas ficamos surpresos com o charme, o clima e a beleza da cidade. É muito bonita arquitetonicamente, neste sentido lembra muito Florença. Além disso come-se bem e a preços justos (tem menos turistas que Veneza e Florença).
A torre é belíssima, desses monumentos imponentes, grandiosos, inteiro em mármore. Fico a pensar na riqueza e no esforço da sociedade que produziu algo tão poderoso para servir como uma torre de sino. Eu não pesquisei, mas meu marido disse que ela começou a entortar devido ao peso. A torre era muito pesada para o terreno, que foi afundando com o tempo. Ainda é possível entrar nela e subir ao alto já que a torre é toda escorada por cabos de aço (não são visíveis). O conjunto igreja, capela, torre é também belíssimo. Hoje se me perguntassem "vale a pena passar por Pisa?", nunca imaginei, mas diria que sim, vale passar ao menos um dia nessa cidade deliciosa. Talvez até mais. Pretendo voltar.



Pelos becos de Veneza

Veneza é uma das cidades onde mais me perdi na vida rsrs. Os becos parecem todos iguais e por mais que se passe por eles infinitas vezes, ainda é difícil se situar. Um casal de brasileiros passa por nós meio irritados:

Ele: eu não moraria nesta cidade nem a pau Juvenal
Ela: eu também não, lugar depressivo


La Traviata (Musica a Palazzo, Veneza)

Sublime! Dessas experiências que marcam uma vida!

Quando fomos a Veneza o lindíssimo Teatro La Fenice estava recebendo a montagem de La Traviata. Os ingressos estavam esgotados. Só conseguimos as entradas para uma montagem desta ópera no Palazzo Barbarigo Minotto, onde acontece o Musica a Palazzo, projeto que propõe um jeito diferente de assistir a uma ópera. Fomos desconfiados, claro, mas fomos surpreendidos muito positivamente, tendo todas as expectativas superadas.
Estávamos em um palácio do século XV ouvindo ópera como numa corte. O palácio era o cenário perfeito e nós fazíamos parte dele. Nós e mais 30 pessoas que ocupavam os espaços onde a ópera se desenvolvia, nos salões e alcovas do palácio. A soprano era maravilhosa, hipnotizante, e ao servir para ela uma taça de prosecco (que não era cenográfica), serviu uma segunda taça, veio andando em minha direção, cantando, e colocou a taça na minha mão. Linda, sedutora, Violetta. Sua voz preenchia todos os espaços da sala aonde estávamos. Uma voz que se materializava e vinha na minha direção como uma onda. Era possível sentir como vibrava violentamente em algumas notas e batia com as mesma violência no meu rosto. Me emocionei tantas vezes que acho que a cantora percebeu. Na cena final, em que já definhava pela tuberculose, Violetta soltou a última nota e se jogou no meu colo. Tão envolvida que estava quis ajudá-la rsrs, mas me contive para não desconcentra-la. Neste momento estávamos na alcova, diante de sua cama. 
A ópera acontece em 3 atos, em três diferentes salas do palácio. O clima é incrível e a experiência muito marcante. No intervalo tomamos um prosecco em uma sala de onde se via o canal e Veneza fez todo sentido para nós. Era o lugar mais certo para se estar no mundo. Que bela cidade. Foi certamente La Traviata que nos trouxe a experiência de Veneza, que nos revelou a cidade. Voltamos para o hotel cantarolando pelos becos e pontes. Sublime!


Sobre Veneza

A cidade é, sem dúvida alguma, belíssima, das mais bonitas em que já estive na vida. Mas a experiência é pobre. Eu diria decepcionante. Fiquei assustada com a quantidade de gente e o tipo de turismo a que a cidade sucumbiu. Camelôs (sim, barraquinhas de bugingangas)vendendo máscaras made in China em plena praça São Marco. As ruas (becos e vielas) tomadas por lojas da Gucci, Dolce & Gabanna, abarrotadas pelas excursões de consumidores  que empobrecem a experiência e nada fazem lembrar a cidade medieval dos mercadores, mas a disneylandia. Preços altíssimos. Pode-se pagar 8 euros numa garrafinha de 200 ml de água. Com o euro a $3,4, faça as contas. Não me importo em pagar caro para estar numa cidade como Veneza, mas desde que se ofereça um serviço à altura do que se cobra. Não é o caso. Para ter uma boa experiência de Veneza é preciso se desligar disso.

Chegamos a Veneza à noite, a primeira visão da cidade é de tirar o fôlego. Chegamos na estação de trem  S. Lucia, olhamos o canal, as luzes..sensacional. Pegamos o vaporeto. O percurso até a praça São Marco é belíssimo. E essa é uma das informações mais preciosas que se pode dar sobre Veneza. A cidade foi feita para ser percorrida de barco, gôndola, etc. É para ser vista a partir dos canais. As belíssimas fachadas dos prédios e o conjunto arquitetônico  só se revelam, se entregam se vistos de dentro dos canais. Os fundos destes prédios se vê das vielas e becos, sempre cheios de gente e ocupados por lojas de marca e restaurantes.


Ao deixar Veneza, minha sensação foi de "que pena".